“o caminho rumo à unidade entre católicos e ortodoxos está na comunhão com separação de autoridade”
Nos dias 10 aos 24 de outubro de 2010, realizou-se, no Vaticano (Roma), pela primeira vez, o Sínodo dos bispos do Oriente Médio juntamente com o papa Bento XVI. Nesse encontro, a convite da Igreja Católica Romana, participou (como delegado patriarcal) de todas as sessões plenárias o arcebispo Dom Gregórios Yohanna Ibrahim, da Igreja Síria-Ortodoxa de Antioquia, juntamente com os demais patriarcas e bispos católicos e outros observadores e delegados patriarcais das Igrejas Ortodoxas Orientais. Na continuidade, lançou a idéia prática e um ardoroso sonho ecumênico que é a fixação de uma data em comum para a celebração da Páscoa entre o Ocidente e o Oriente, além de uma festa única para a celebração dos seus santos e mártires do século XIX e XX.
A Igreja Síria-Ortodoxa de Antioquia, parte do grupo das Igrejas Ortodoxas Orientais, tem percorrido, desde meados do século XX, um expressivo caminho ecumênico nos diálogos com as “Igrejas Irmãs”, principalmente com a Igreja Católica Romana. Nesse caminho ecumênico, os documentos do Vaticano II (Lumen Gentium e Unitatis Redintegratio) são de suma importância. As declarações comuns e acordos, e, mais recentemente, as reuniões e resoluções da Comissão Mista para o diálogo Católico-Romano e Sírio-Ortodoxo reconhecempari passu que aquelas dissensões que surgiram no passado, aconteceram por conta de desentendimentos no vocabulário, mantendo sempre uma certa comunhão espiritual in sacris.
Há, atualmente, grandes avanços nos diálogos e acordos ecumênicos assinados por ambas Igrejas (Católica-Romana e Síria-Ortodoxa) mostrando que as divergências do passado acerca das tradicionais controvérsias cristológicas já não existe mais e que a Igreja no seu todo caminha rumo à plena comunhão na verdade e caridade. No Brasil, a Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia (www.igrejasirianortodoxa.com.br) é membro, desde 1991, do CONIC (www.conic.org.br) definido como Conselho Nacional das Igrejas Cristãs, uma associação fraterna de Igrejas que confessam o senhorio de Cristo como Deus e Salvador e “procuram cumprir sua vocação comum para a glória de Deus Uno e Trino, Pai, Filho e Espírito Santo, em cujo nome administram o santo batismo” (DAPNE, 2000, p. 217).
O Arcebispo Dom Gregórios Ybrahim é atualmente o responsável pelo ecumenismo na Igreja Síria-Ortodoxa de Antioquia e desempenha um papel muito importante em prol da unidade dos cristãos. Participa do diálogo ecumênico desde 1979 quando fora nomeado por Sua Santidade Inácio Zaqueu I. Em 1998, Dom Gregórios foi eleito membro da Comissão Central do Concílio Mundial das Igrejas. Quando era monge siríaco terminou seus estudos no Ocidente e participa da Pregação Internacional pela Paz de Assis desde 1986 e de todos os Encontros Internacionais pela paz organizado pela Comunidade Católica de Santo Egídio. Também fundou a casa editora que publica em Árabe, siríaco e inglês, os estudos e as riquezas da vida da Igreja no Oriente Médio.
Numa das sessões do Sínodo, cuja temática voltava-se para a unidade dos cristãos, o arcebispo Dom Gregório Yohanna Ibrahim argumentou que o caminho rumo à unidade entre católicos e ortodoxos está na “comunhão com separação de autoridade”. Para o arcebispo, é possível e salutar que haja uma unidade na fé entre a Igreja Síria-Ortodoxa e a Igreja Romana, mas, sobretudo, com respeito e o reconhecimento do papel do bispo de Roma como o primeiro entre os apóstolos (primus inter pares), sem, contudo, o exercício de uma jurisdição autoritária. Cada patriarca, assim como cada apóstolo de Jesus, tem sua própria autoridade e autonomia no que compete a jurisdição a ele conferida.
De acordo com o arcebispo, para que haja verdadeiramente uma possível comunhão com Roma (Igreja de Roma) entre sirianos ortodoxos e católicos romanos torna-se, obrigatoriamente, necessário separar os conceitos de "COMUNHÃO" e a "AUTORIDADE". É possível uma amizade, um caminhar comum, uma parceria, ou até mesmo uma comunhão mais plena, mas respeitando as individualidades, o carisma de cada um, de lado a lado, e não colocando em jogo a autoridade destes ou daqueles, sem desfavorecer nenhum dos seus dois pulmões (oriente e ocidente).
Muitas pessoas pensam, equivocadamente, que "comunhão" significa imposição de autoridade de uma “Igreja-Irmã” sobre a outra ou que a Igreja Ortodoxa deva ser submissa nas questões hierárquicas ao bispo de Roma. Isso na verdade não significa comunhão e, muito menos, unidade. Também pensam que "ecumenismo" seria a volta de todas as Igrejas ao seio da Igreja de Roma. Isso não é verdade! É um erro e uma arrogância pensar assim.
Autor: Padre Celso Kallarrari
Pesquisado em 03/01/11 às 22:17
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